segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CARTA DOS PROFESSORES À COMUNIDADE

CARTA DOS PROFESSORES À COMUNIDADE

POR QUE ENTRAMOS NA GREVE E POR QUE A SUSPENDEMOS COM MOBILIZAÇÃO DURANTE 30 DIAS?
Cenário desolador: professores da rede pública de ensino do Ceará fora das salas de aula por 63 dias. Embora adiada a greve geral, teve, no entanto, que ser deflagrada em 5 de agosto de 2011, devido ao descumprimento da Lei Nacional do Piso, sancionada em 2008 pelo Supremo Tribunal Federal. Desde lá, lutamos por sua implantação, mas com repercussão na carreira do magistério, a fim de valorizar a formação profissional, conforme merecem antes os estudantes que da escola pública necessitam. Em assembleia geral, 7 de outubro, foi suspensa a greve por 30 dias, porém com mobilização. Com nova assembleia marcada para 11 de novembro, fez-se uma trégua em favor das negociações. Na verdade, uma imposição do governo Cid Gomes, que não negocia com categoria em greve.
NINGUÉM QUER NEM GOSTA DE FAZER GREVE!
Não se conhece quem queira ou goste de fazer greve. É prejudicial a todos. Prejudica estudantes e suas famílias na falta das aulas. E nós professores, dentre os prejuízos, sofremos o desconforto das agendas exaustivas de greve que acontecem quase sempre é na rua, ao invés de estarmos na escola, contribuindo para a formação estudantil. Compromisso de greve significa desgaste emocional, inclusive das horas ao sol sem resposta às reivindicações. Assim foi o episódio da quarta-feira, 28 de setembro, com agenda de concentração na pracinha do CEART e ida prevista ao Palácio Abolição. Inesperadamente precisamos de lá correr à Assembleia Legislativa, onde seria votada a mensagem do projeto de lei que destruiria a carreira de professor no Ceará.
Votação desastrosa de 36 votos dos deputados contra o magistério e 4 a favor, restava a sanção do governador que a propôs. Sancionou-a. Mas aquele dia da votação, 29 de setembro, conhecido como “a quinta-feira sangrenta” pelos meios de comunicação locais, nacionais e estrangeiros, consideramos de todas as necessárias manifestações a que causou mais indignação. Fomos todos agredidos. Nem só simbolicamente, mas com derramamento de sangue. Professores apanharam, sofreram humilhações e até spray de pimenta, perante os olhos antes cegos da imprensa que, “sensacionalistamente”, tudo então noticiou. Atestado o desrespeito a profissionais que lutamos, sim, porém de modo pacífico, pelo cumprimento de direitos, um dever do Estado.
Mais circunstâncias degradantes não faltariam. Basta-nos, porém, citar a “quebra” que a greve promove no cotidiano. Muda, não só a vida dos estudantes e de suas famílias, mas a nossa que, por exemplo, na proximidade do período natalino, já caminharíamos à conclusão do ano letivo, e o que temos? Apenas indefinição, temor, mesmo com a valentia e a unidade, diante das imposições de um governo irresponsável até com seus compromissos de campanha.

NÃO ESTAMOS SOZINHOS NEM FRACOS. ESTAMOS MOBILIZADOS, MESMO DANDO AULAS.

Neste momento delicado surgem afirmações generalizantes: 1. para os alunos tanto faz ter aula ou não; 2. estudantes e pais não compreendem a luta dos professores; 3. são poucos professores à frente do movimento; 4. professor em greve é individualista. Nenhuma das afirmações constitui verdade. Professor não quer nem gosta de greve. Estudante conhece os prejuízos de vivê-la. Ambos querem e precisam das aulas. Certamente entendem que a responsabilidade das greves é do governo imediatista que não prioriza a educação pública, escolhendo obras no estilo “faraônicas” que resultam em propagandas enganosas, em vez de investir e esperar para colher os frutos projetados ao bem maior de um povo: sua educação.
Certificando o visível descaso a este bem, há dinheiro para metas bilionárias como centro de eventos, aquário, reforma do Castelão. Mas, enquanto categoria, não estamos sozinhos nem fracos. Estivemos mobilizados por 63 dias e continuamos, mesmo dando aulas. Greves acabavam e não se discutia mais. A mobilização durante as aulas abre debates políticos inéditos.
Na trégua, persistimos na melhor estratégia de articulação, através da forte representação dos professores nos encontros zonais, semanalmente realizados, além de mais programações do sindicato APEOC: Plenária da Educação do Estado do Ceará, 24/10; e Marcha Nacional pelo Piso, Carreira e PNE (Plano Nacional de Educação), em 26/10; dentre outras valiosas ações da Rede de Zonais.
Debatemos com professores, estudantes e pais a opção pela “operação tartaruga”, não somente a fim de reduzirmos as aulas, mas para esclarecermos cotidianamente a comunidade escolar, inclusive sobre a possibilidade de retorno à greve, após a assembleia geral do dia 11, caso o governo não aponte solução já protelada.

O QUE ESPERAMOS?

Esperamos que o governo nos responda como merecemos, merecem os estudantes e suas famílias. Esperamos o entendimento de que não somos intransigentes, conforme levianamente mostram as propagandas de uma realidade que ninguém conhece. Esperamos o cumprimento do que é constitucionalmente obrigatório ao governo, este, sim, responsável por danos resultantes do desinteresse pela melhoria da escola pública de qualidade, debate constante nas disputas eleitorais. Esperamos o apoio dos estudantes, pais e de toda a comunidade escolar da região, pois decerto reconhecem o valor dos profissionais que somos. Jamais nos doaríamos a uma luta tão séria, se não fosse por necessidade. Não é, portanto, uma busca só de aumento salarial, mas é uma defesa coletiva da escola pública e dos que dela necessitam: nós professores, os estudantes e suas famílias.

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